quinta-feira, 28 de maio de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

Maria Azenha na Livraria Barata da Av. de Roma


No próximo domingo, dia 24 de Maio, às 16h00, na Livraria Barata da Av. de Roma, será lançado o novo trabalho da nossa associada, a Poetisa Maria Azenha. Esperamos por todos...

[Fonte: Imagem – Capa do CD. Google]

«SEMANA DEDICADA A FERNANDO PESSOA»


Ana Maria Batista, Carlos Durão e Sónia Paredes, alunos da Licenciatura de Marketing, Publicidade e Relações Públicas do Instituto Superior de Línguas e Administração – ISLA, estão a desenvolver o projecto de realização de uma Semana Dedicada a Fernando Pessoa, sob a coordenação do Prof. Joaquim Caetano, docente da cadeira de Publicidade daquele Instituto. O projecto colhe o apoio da Câmara Municipal de Lisboa – Casa Fernando Pessoa.

No âmbito deste projecto, no dia 16 de Junho, às 19h30, na Sala de Leitura do ISLA, terá lugar uma tertúlia onde se pretende apresentar ao público os testemunhos daqueles que, directa ou indirectamente, tiveram a felicidade de privar com o poeta enquanto vivo.

Na sequência do contacto estabelecido, a Associação Fernando Pessoa saúda a os preponentes da iniciativa, manifestando a sua total disponibilidade para colaborar na divulgação do evento através do seu blogue e do envio de e-mails aos seus associados.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

«Fotografias para Caeiro»



Na Casa Fernando Pessoa, para ver até ao final de Agosto.

[Fonte: Imagem – Convite para a inauguração da exposição. Google]

«Jornadas Pessoa - Crowley» na Casa Fernando Pessoa


Uma oportunidade sem par. Inscreva-se já!


[Fonte: Imagem – Ficha de Inscrição on-line. Google]

HOJE, na Escola Secundária Artística António Arroio, «Ouviu-se o Silêncio a Ler»


[Fonte: Imagem – Cartaz da actividade. Google]

«O Mar Atinge-nos» de Maria Azenha


No próximo dia 24 de Maio, às 16h00, na Livraria Barata da Av. de Roma, será lançado o novo trabalho da nossa associada, a Poetisa Maria Azenha.

O CD O Mar Atinge-nos, será apresentado pela Professora Dr.ª Risoleta Pinto Pedro.


Avisam-nos, e nós divulgamos que durante a sessão será servido um beberete de poesia e guitarra Pois então! A não perder.

[Fonte: Texto – Convite. Imagem – Capa do CD. Google]

«Sensacionismo e Outros Ismos» de Jerónimo Pizarro


Hoje, dia 20 de Maio, às 18h30, em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, o Professor Doutor Fernando Martinho introduziu o Volume X da Edição Crítica de Fernando Pessoa, Sensacionismo e Outros Ismos, cuja apresentação e edição é de Jerónimo Pizarro.

Ficha Técnica

Código: 1016091
Autor: Fernando Pessoa
Colecção: Edição Crítica das Obras de Fernando Pessoa
Tema: Estudos Linguísticos e Literários
Data de Publicação: Fevereiro de 2009
Nº Páginas: 700
Nº Volumes: Volume X
ISBN: 978-972-27-1663-5
Preço: 38,00 Euros
Observações: Série Maior. Apresentação e edição de Jerónimo Pizarro



[Fonte: Texto – Convite. Imagem – Capa do livro. Google]

«PESSOA E A ALEGORIA DA CAVERNA»


Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quantoMorre!
Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Ricardo Reis, Odes de Ricardo Reis


Todas as grandes coisas se alcançam
com o coração leve

Ramtha

Nas tradições iniciáticas gregas, a caverna representa o mundo. Para Platão, este é um lugar de ignorância onde a alma humana está presa, como no interior de uma caverna. Escreve ele em A República, que a caverna tem uma ampla passagem que dá para a luz; no interior, de costas para a entrada, estão os homens acorrentados, sempre no mesmo lugar. A única luz que lhes chega é a que vem de fora, mas que eles (que somos nós) não podem ver directamente. Para Platão, esta é a condição da humanidade na terra. A caverna é a imagem deste mundo. A luz indirecta que ilumina as paredes vem de um sol, invisível para quem está dentro, mas indica o caminho de regresso da alma rumo à “verdadeira” Realidade. Este simbolismo cósmico e ético compara implicitamente este mundo a um teatro de sombras, de cuja ilusão a alma tem de se libertar para atingir a realidade: o mundo das Ideias, dos arquétipos ou da perfeição. Outras tradições chamam-lhe céu, nirvana, paraíso e outros nomes, mas o que é surpreendente é que parece muito perto de nós e que nos bastaria uma rotação de pescoço para termos acesso à fonte. Tão simples…

Simples, mas não linear. Para alguma coisa lá estão as sombras.

Os processos iniciáticos costumam ser descritos como partindo de uma caverna chamada câmara de reflexão para as provas, e daí para a Luz. Por vezes, como no Poço iniciático da Regaleira, os aspirantes à Iniciação tiveram de descer, com os olhos tapados, por uma íngreme escada. Assim faziam (e todos nós, os que já por ali descemos, de alguma forma) o trabalho de recuo até ao útero.

Ser conduzido a uma caverna é ter uma nova oportunidade de um novo nascimento, de um começar tudo de novo, com a convicção de que somos os agentes da prisão e também os da libertação. Que não há a quem culpar. Estamos novamente no princípio do caminho, uma nova oportunidade se nos apresenta. Saberemos aproveitá-la? Que não há mãe nem pai para culpar e estamos rodeados de espelhos a quem chamamos “outros” (“houve quem” lhes chamasse heterónimos), onde nos vemos. Reconhecer-nos-emos nos rostos dos outros? E nas qualidades? E nos defeitos? Que nos incomoda quando olhamos as sombras dos outros? Saberemos que estamos a ver a nossa própria sombra? Ou continuaremos a ver neles mães, pais, professores, chefes, patrões, esposas, filhos, maridos, sombras da culpa a quem mais uma vez culpar?

Um dia teremos a coragem, como um cão fiel ao nosso próprio destino, ou projecto, ou desenvolvimento, de não largarmos as canelas dos que mais nos incomodam, até percebermos, digo, aprendermos com eles acerca de nós.

Somos, nesta caverna, o guardião, o prisioneiro, as correntes e o libertador. O ser humano que se lamenta é, na realidade, quem se mantém a si mesmo aprisionado, e é ele e só ele quem poderá libertar-se. Segundo a interpretação de Platão e Pitágoras, a alma é mantida em prisão pelas suas paixões e libertada pelo pensamento. Este não é o pensamento em circuito fechado em que andámos a maior parte das nossas vidas, é o pensamento libertador que desfaz as culpas do eu e do outro. Desfaz as culpas mas não cega, mas não oculta, dá a olhar a sombra para ver a sombra.

O pensamento libertador é aquele que liberta o olhar, que até aí só via a dor, por culpa da culpa, ora em si ora no outro, numa monótona alternância.

Uns dos maiores perigos da gruta não são as sombras. As sombras são aquilo que temos, são as nossas circunstâncias, mas não a nossa fatalidade ou destino, apenas a condição a transcender. O perigo é a ilusão de tomar as sombras pela realidade, mas estas, em si, são incontornáveis, o material inalienável para que o processo de individuação se faça.

A caverna, paralelamente à sua função protectora, já foi cenário de obras de arte. Os nossos antepassados desenhavam figuras nas suas paredes, representando animais e pessoas da época, cenas de caça e ritos. Era uma actividade que poderia ter tanto de figurativo como de simbólico ou mágico. Mas na verdade, se atentarmos no símbolo da caverna a partir da concepção platónica, esta actividade de representação é, ela própria, um arquétipo daquilo que é realmente a actividade do inconsciente. Os nossos antepassados representavam literalmente o mundo nas paredes da caverna física, tal como nós representamos, segundo Platão, o mundo das ideias puras nas paredes da nossa caverna, que é aquilo que designamos como o mundo físico.

Os físicos quânticos dizem algo que se pode traduzir como exactamente a mesma coisa. Que criamos a realidade.

Como o vêm dizendo os místicos.
Vejamos os poetas e encontramos mais do mesmo.
Fernando Pessoa refere-se a isto:
“Sou minha própria paisagem, /Assisto à minha passagem/”
Ou: “Tudo o que sonho ou passo, /O que me falha ou finda, /É como que um terraço/Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda.”
Essa coisa linda de que ele fala é a que ficou além de nós, a luz que está atrás de nós e projecta o teatro de que apenas vemos as sombras projectadas. Está lá tudo, nas paredes da caverna, mas… como num filme muito antigo, ou muito moderno: algo distorcido. Como num teatro de sombras. Recorrendo a Hermes Trimegisto: Assim como em baixo, assim em cima” Não existe nada em nenhum plano que não exista nos outros:
Ainda Fernando Pessoa:
“Eu vejo-me e estou sem mim, /Conheço-me e não sou eu”.
Afirma nas Páginas Íntimas e de Auto-interpretação:

“Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são – como são para os outros.”

A névoa aclara-lhe a visão. Porque o impede de ver as coisas como os outros as vêem, como eles pensam que elas verdadeiramente são: as sombras. Não significa que ele veja o mundo das ideias puras, mas ele sabe que o que os outros vêem são sombras. A névoa torna-lhe nítido o olhar. E aqui está o grande e brilhante paradoxo: a névoa lúcida é aquela que sabe que as sombras são sombras. Isso ainda não é a luz, mas sabê-lo é o primeiro passo sem o qual nada é possível.

Talvez seja essa (não sei, é só uma hipótese) a grande transcendência ou a grande luz que precisamos descobrir: que a sombra é a sombra. Só pode transformar-se em luz a sombra que for primeiro reconhecida como tal. De contrário transformar-se-á provavelmente em cada vez maior breu, cada vez mais denso, cada vez mais palpável, cada vez mais esmagador, cada vez mais grade de prisão. Ou gruta.

Simbolicamente, a caverna representa o inconsciente, essa profundidade tão propícia à elevação. Quanto mais o ser mergulha dentro de si, dentro da sua sombra, no local mais escuro e tenebroso da caverna, mais possibilidades tem de conhecer aspectos desconhecidos da psique, mas também, como um escritor que muito aprecio, Christian Bobin, diz no seu livro La Lumière du Monde: quanto mais se iluminam partes de uma divisão, mais remetemos à escuridão as partes não iluminadas. Este é um perigo real da caverna. Querer iluminá-la subitamente, intensamente, pela sombria luz do fanatismo, ou da certeza, pode tornar as zonas obscuras particularmente inquietantes, os animais selvagens vão acolher-se preferencialmente nesses recantos escuros e podem tornar-se muito assustadores. É talvez conveniente ir iluminado progressivamente a caverna, ir tomando contacto com as partes recém-iluminadas, entrar pé ante pé nas zonas escuras, tacteando, habituando-nos às feras que de nós mesmos escondemos, já que o choque pode ser grande.

Há uma caverna muito segura que habita dentro de nós. Essa caverna é o coração (“.. esse comboio de corda…”). Quanto mais aberto, arejado e confiante, mais seguro se torna, e mais recomendável como sítio para lá se morar. Mas antes é preciso expulsar dele, melhor dizendo, conduzir gentilmente até à porta, o monstro do medo. É um trabalho que pode demorar anos, o monstro multiplica-se, e até pode não terminar, isso não é o que mais importa, mas algum dia terá de ser iniciado. E só nessa altura temos verdadeiramente aquilo a que alguns chamam o iniciado. Que até já pode estar convencido de estar muito liberto ou “avançado”, mas se não tiver feito esse trabalho, não passa de um actor a fingir que participa no teatro iniciático. Nem haverá graus ou honrarias que lhe cheguem. São estes os verdadeiros processos de consciência, os que nos conduzem mais fundo e nos abandonam na caverna a um canto do medo com as nossas sombras. Um dia olhamos à volta e vemo-nos lado a lado com aquele que considerávamos ser o pior dos miseráveis, o mais cretino dos cretinos. Pegamos-lhe na mão e ajudamo-lo a erguer-se. Pensamos nós. Depois, quando o olhamos enfim de pé, percebemos que afinal foi ele que nos estendeu a mão. É nesse momento da morte de toda a ilusão que o trabalho pode verdadeiramente iniciar-se. Mas não há títulos para esses graus. É talvez este o mais doloroso e também o mais glorioso momento: ver a ilusão e viver com ela sem a tomar pelo absoluto.

Afinal, estar aqui pode também ser visto e agradecido como uma dádiva. Esta visita ao reino do físico, das sensações, dos sons, dos cheiros, das cores e dos sabores é para ser apreciada. Se assim não fosse para que teríamos os sentidos físicos? Que os gozemos e nos divirtamos com os prazeres que nos proporcionam, sabendo que o todo não termina aí. E que todos têm direito à sombra e à luz, aos prazeres e ao todo. E respeitando a natureza que também somos nós, coisa que frequentemente esquecemos neste vício da separação em que andamos.

Ainda voltando a Platão e a este mundo, que poderá ser um lugar de sombras, não ponho em causa, mas como não conheço o deslumbrante mundo original ao que aqui está projectado, digo-vos que estas sombras são tão belas que me sinto grata às imagens difusas por me terem acolhido nesta fase da viagem. Quando a sombra que tenho à frente é um nascer ou um pôr-do-sol, quando a sombra que tenho à frente é um estranho e misterioso tom do mar, nuvens a desenharem mundos no céu, um telhado molhado pela chuva, uma erva que cresce entre as pedras, a lua sobre o rio, uma expressão humana de espanto ou maravilhamento, o canto de uma voz ou o som de um piano que me transportam à caverna do meu coração, um gato a espreguiçar-se, um belo poema, o olhar profundo de um bebé e o infinito de deslumbramentos de sombras desta ao mesmo tempo magnífica caverna, pacifico-me com a sombra, aceito a ilusão e saboreio a névoa. Afinal, é para isso que cá estamos. Não se recusa uma bela prenda. Ainda que se trate de um ilusório algodão doce que mal se coloca na boca logo se desfaz.

Sobre a caverna há muita coisa escrita em imensos livros, a começar pela República de Platão, passando pelos vários dicionários de Símbolos e tantos outros, mas cada um de nós pode fazer a sua própria pesquisa interior. Penso que o melhor que podemos encontrar é o que está gravado na caverna dos nossos corações, porque isso, não há Google que busque, é informação inédita, não aparece registado em mais lado nenhum. A não ser nos poetas. Para poupar caminho procure-se em cada poema de Pessoa e das suas “personas”.

Para os deuses as coisas são mais coisas.
Não mais longe eles vêem, mas mais claro
Na certa Natureza
E a contornada vida...
Não no vago que mal vêem
Orla misteriosamente os seres,
Mas nos detalhes claros
Estão seus olhos.
A Natureza é só uma superfície.
Na sua superfície ela é profunda
E tudo contém muito
Se os olhos bem olharem.
Aprende, pois, tu, das cristãs angústias,
Ó traidor à multíplice presença
Dos deuses, a não teres
Véus nos olhos nem na alma.

Ricardo Reis

http://risocordetejo.blogspot.com/


[© Risoleta Pinto Pedro]