sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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No próximo dia 17 de Fevereiro, às 10h30, na Biblioteca Nacional de Portugal, em presença do Ministro da Cultura, é lançada a nova versão do FLiP, o FLiP 7, que inclui, em opção, todas as alterações propostas pelo novo Acordo Ortográfico.

RINOCERONTE: “poeta-escultor de ícones de Fernando Pessoa”


No Palácio da Galeria, em Tavira, inaugurou no passado dia 7 de Fevereiro – e pode ser visitada até ao próximo dia 28 de Março – a exposição “Rinoceronte”, pseudónimo e marca artística do “poeta-escultor” Renato Cruz.

Renato Cruz nasceu em Vila Real de Santo António, em 1946. Formou-se na Escola António Arroio. Residiu em Paris durante 14 anos, tendo regressado a Portugal na década de 80 do século passado, entregando-se à produção de “objectos-poema”, personagens cultas da História e da Literatura de Portugal.

Co-organizador das Bienais de Lagos (1982, 1984 e 1986), colaborador do Expresso, co-fundador da Galeria Zé dos Bois, mostrou na Casa Fernando Pessoa os seus muito apreciados “Fernandos”, verdadeiros ícones da Casa.

Esta exposição pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30.

CONVITE: Biografia de FERNANDO PESSOA na CASA FERNANDO PESSOA


[Fonte: Convite editado pela Temas e Debates e CML/Casa Fernando Pessoa]

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

LAURA CESANA – «O Menino da Sua Mãe»


[© Laura Cesana, Série Fernando Pessoa: “O Menino da Sua Mãe”, 1988, técnica mista, 35 x 48 cm]

«Uns versos Quaisquer (1) PESSOA E A INTERNET»


O melodioso sistema do Universo,

O grande festival pagão de haver o sol e a lua

E a titânica dança das estações

E o ritmo plácido das elípticas

Mandando tudo estar calado.

E atender apenas ao brilho exterior do Universo.


Álvaro de Campos, 27-11-1914

[In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002]


De vez em quando recebo uns mails daqueles cheios de boas intenções muito bem arrumadas (não tenho nada contra as intenções, eu própria estou cheia de delas, nem contra as arrumações, que ando sempre a fazê-las em casa e nas ideias), o problema é que esses textos umas vezes são atribuídos a Garcia Marquez, outras a Jorge Luís Borges, e ainda a outros autores que agora não recordo. Basta ter lido um pouco daqueles autores para se perceber imediatamente que o texto não tem nada a ver com eles.
Recebi recentemente um mail cujo assunto era qualquer coisa como “Fernando Pessoa e a crise”, entendamos: o Fernando Pessoa que foi, na poesia que continua a ser, e a crise que não deixou de ser, pelo menos foi o que pensei antes de ler o mail. Vinha, como certificado de garantia, acompanhado de uma pintura representando Fernando Pessoa. Tudo bem, até aí. O problema era o poema. Não era um poema, era um problema. Um enigma. Que ainda hoje não resolvi na totalidade, mas que tenho a certeza não ser de Fernando Pessoa. Quem o escreveu, é para mim um mistério que desisti de desvendar, mas Fernando Pessoa NÃO FOI. Aposto com quem quiser.
Acreditam que ele poderia ter escrito isto?:

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viverapesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas ese tornar um autor da própria história.É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrarum oásis no recôndito da sua alma .É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.É saber falar de si mesmo.É ter coragem para ouvir um 'não'.É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Sem pôr em causa as boas intenções, a moralidade e mesmo a eficácia, para quem conseguir, mas…

Não, definitivamente não. Da sintaxe ao vocabulário, passando pelas ideias. Demasiado linear. Mesmo um Caeiro, um Campos, que não ligavam nada à regularidade (Reis era semi-regular, de uma regularidade muito própria) métrica, rítmica ou estrófica, não se atreveriam a este discurso de pastor protestante em dia de missa (com todo o respeito por todos os pastores, a começar pelo de Caeiro…), Mas Caeiro falaria das árvores e Campos falaria das máquinas, Pessoa não encontrou nenhum oásis dentro da alma, até porque com tanta alma era impossível esquadrinhar em todas. Nem estou a ver se ele estava interessado nisso. Também não estou a ver nenhum deles a verbalizar o agradecer a cada manhã o milagre da vida, sobretudo desta maneira, mas imagino perfeitamente Caeiro a fazê-lo em silêncio, com árvores nas pupilas, Campos com barcos a saírem-lhe dos olhos.

Para ouvir um “não”, não é preciso ter coragem, basta ter ouvidos. O problema é depois. E o problema começa logo ao nascer. Sobre isto Pessoa escreveu uma arca de poemas que ainda hoje cintilam como estrelas lúcidas. Basta lermos com atenção o poema em epígrafe, para vermos como Álvaro de Campos escreve um poema ao estilo de Caeiro, o mestre. Este poeta não cabe em sistemas (nem nos que ele próprio criou) ou em morais, é maior que tudo isso.

Tudo o que se diz no mail abusivamente atribuído a Pessoa que recebi, está condensado com muito mais elegância po(ética) e estética em:
“E atender apenas ao brilho exterior do Universo.”

Sobre Pessoa, estamos conversados.

Sobre a crise, apetece-me enviar um e-mail para o éter “Mandando tudo estar calado”. Pode ser que com algum silêncio se consiga pelo menos resolver a crise dentro de cada um de nós. Ou recomendando “O grande festival pagão de haver o sol e a lua”. Pagão que, ocorre-me agora dizer, afinal Deus foi (ou é?). Que grande confusão quando se fala dele (e no entanto, às vezes, um sussurro dentro do coração, uma aragem leve, leve, no cabelo, uma paz no corpo, falam-nos dele. Seja ele (ou ela? ou ele e ela?) quem for(em): criador ateu, criador cristão, muçulmano, judeu ou pagão. Ou Fernando Pessoa, que por vezes para mim, só com um verso, é consolador como um sonho de Deus.

© Risoleta C Pinto Pedro

http://risocordetejo.blogspot.com/

MANUELA NOGUEIRA: «Ao Mestre Alberto Caeiro»


Desculpa Oh! Alberto Caeiro
sou tua discípula desencantada
tatuaram em meu cérebro o mistério de Cristo
olho para a flor como um jardineiro
que só repara na espessura, cor da terra,
na humidade do ar, na linha do vento
à espera que a flor abra para outros
Ser jardineiro é apenas meu sustento.

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
tanto te amo sem poder seguir-te
buscar-te na Grécia, frescura da nudez
numa filosofia de máscara teatral,
sou um poeta cego que oiço teus passos
persigo-te de bengala branca cuidando
que teu paganismo é ardil de Deus.
-"Pensar é o contrário de estar feliz" -

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
esta cegueira de amar-te sem futuro
és o amor em fotografia, hoje virtual
um dia, quando em mim morreres deveras
saltarei todas as sebes e até o muro;
serei a que perdeu o traje de fantasia
amar-te-ei com um destino sinérgico
para lá da esperança de haver ou não deuses.

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
mas não te enganas quando dizes:
"Que nada é o fim, que nada é o abismo, que nada é mistério
e que tudo é Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é vida."
Só na unidade do Universo é possível repouso
arrumados os sentimentos no estaleiro
a vida correndo inexorável para o mar
barco de pensamentos viajando num veleiro.


[© Manuela Nogueira, inédito, Fevereiro 2007]