terça-feira, 6 de janeiro de 2009

EM DEVIDO TEMPO, publicamos dois poemas inéditos de José Miguel Lopes


SAUDADE DO MAR

Em casa tenho dois búzios
que fazem lembrar o mar
tal manchas verdes dos lúzios
tão prontos a me tentar.

Se os ignoro dissimulam
seus choros tristes sozinhos,
se os miro quase me anulam
e não me ensinam caminhos.

Fico assim na indecisão
sem rumo e sem ambição
embora ávido do lar...

Minha estrela me guiará.
Mais esplendente ficará
quando eu chegar ao meu mar.

[6 de Agosto de 2007]

ELEGIA À RUA DO DOURADORES

O dia esgotou-se como tantos outros
naquele escritório da Rua dos Douradores.
O ambiente abafou-me os sonhos
afastou-me os amigos e os parentes.
Tenho a mente imprecisa e a rua é sombria
sombria em cada esquina.
Pelos vidros da janela, só vejo outras janelas.
Sinto-me só
apesar de acompanhado pelo Bernardo Soares
que escreve sem cessar os importantes livros selados.
Sou um correspondente em línguas estrangeiras
e já não sei em que língua penso.
Mas isso não importa, o que é preciso é pensar!
O que pensarão os que durante o dia só escrevem números?
Conseguirão sonhar?
Coitados, sujeitam-se para ganhar a vida!
Farão como eu, que escolho as palavras e oiço a sua música
quando em tudo penso, menos em cartas comerciais?
Hoje, não escrevi as malditas cartas, fingi que as escrevia
enquanto em silêncio decorava a construção dos meus versos.
Agora, assolam-me a mente as palavras de sempre
fingir, pensar, sentir
alma, tristeza, dor
pena, choro, solidão
mar, céu, nada , valor
e muitas outras que não têm a mesma cor.
Estou cansado
fez-se noite no meu dicionário.
Amanhã vou ver o Tejo: Não, não virei,
mandarei o Álvaro de Campos!

[13 de Maio de 2006]

[© José Miguel Lopes]

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