sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MANUELA NOGUEIRA: «Ao Mestre Alberto Caeiro»


Desculpa Oh! Alberto Caeiro
sou tua discípula desencantada
tatuaram em meu cérebro o mistério de Cristo
olho para a flor como um jardineiro
que só repara na espessura, cor da terra,
na humidade do ar, na linha do vento
à espera que a flor abra para outros
Ser jardineiro é apenas meu sustento.

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
tanto te amo sem poder seguir-te
buscar-te na Grécia, frescura da nudez
numa filosofia de máscara teatral,
sou um poeta cego que oiço teus passos
persigo-te de bengala branca cuidando
que teu paganismo é ardil de Deus.
-"Pensar é o contrário de estar feliz" -

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
esta cegueira de amar-te sem futuro
és o amor em fotografia, hoje virtual
um dia, quando em mim morreres deveras
saltarei todas as sebes e até o muro;
serei a que perdeu o traje de fantasia
amar-te-ei com um destino sinérgico
para lá da esperança de haver ou não deuses.

Desculpa Oh! Alberto Caeiro
mas não te enganas quando dizes:
"Que nada é o fim, que nada é o abismo, que nada é mistério
e que tudo é Deus, e que tudo é Ser, e que tudo é vida."
Só na unidade do Universo é possível repouso
arrumados os sentimentos no estaleiro
a vida correndo inexorável para o mar
barco de pensamentos viajando num veleiro.


[© Manuela Nogueira, inédito, Fevereiro 2007]

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