terça-feira, 13 de janeiro de 2009
A POESIA DE RISOLETA PINTO PEDRO
No outro dia fui aos Jerónimos
com uma mão cheia de alunos
um raminho de azedas e alfazemas
visitar
o Velho do Restelo pensava
eu quando tropeçámos com a mor
ta petrificação dos Poetas.
Depois de de
vida
mente
acariciada a
pedra e olhado o
ar
de
tivemo
nos nós embaraçados per
ante
um altar
pagão
megalito cristão
flor de elevação
marco
marmorear de esquecimento
em padrão
fálico
falido
reverência nossa aflita.
Foi então que um deles, rosmaninho ou alecrim
leu o poeta para lá da pedra e disse para lá do mito:
Isto é muito bonito.
Em poético silêncio recuámos para a frente da vida estava tudo
dito.
……………………………
O lugar onde lamento os poetas mortos é
o mesmo altar onde o talento dos poetas mortos é
o mesmo andar onde habito com os poetas mortos é
o mesmo olhar onde reencontro os poetas mortos é
o mesmo melancólico encolher de ombros
............................
Conheci uma vez um templo
na verdade devotado ao culto
do amor
da rua foi trazida uma misteriosa pedra
de altar e sempre algo misterioso
acontecia cada vez que o(s) oficiante(s) dela
se aproximava(m)
nesse templo os mestres
construtores
desenharam a sua marca sobre a pele
do próprio
templo e indelével ficou
a inscrição
não existindo
esse templo ainda
existe na verdade não
existe e é verdade
que existe e é um verdadeiro templo porque está no tempo e fora
do tempo dentro do templo está
o templo e está
fora do tempo
o templo hoje
o templo transporta-se a si
mesmo sobre as pedras a que alguns apelidam de profanas porque nãoconhecem
a natureza
da pedra é um templo semente é de polinização a sua sagrada
tarefa não sei que aconteceu à pedra
de altar mas não é impossível
que esteja numa outra rua à espera
que um novo templo se erga e alguém a contemple e diga
mas que bela pedra de altar para o meu templo e a arrrrrrrrrrrrrrrrraste
porque é
pe
sa
da
e a coloque novamente no
centro
de um espaço onde
fenómenos misteriosos hão-de voltar
a acontecer
sempre
isto aconteceu em todos os tempos com todos
os templos sobre
pedra se ergue
a pedra e um deus sucede a outro
deus e é sempre o mesmo aquele
que constrói apenas o faz porque não sabe
que é ele o deus a construir
um templo fora de si réplica sem saber da sua própria
natureza e assim até ao fim
do tempo
mas não
do templo.
.................................
Os poetas encostam-se às esquinas e desviam-se
Das pessoas
E buscam
Não
Acham.
Os poetas são más companhias porque se deitam tarde mesmo quando dormem cedo e se levantam tarde mesmo quando se erguem do leito com o nascer do sol. Além disso não têm um pensamento estruturado e falam por alusões. Alimentam-se mal, ingerem símbolos, têm difíceis digestões, complexas metáforas e finalmente não ouvem conselhos.
[© Risoleta C. Pinto Pedro. Imagem - fotografia da autora]
Etiquetas:
Poesia dos Associados,
Risoleta Pinto Pedro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
A erudição ligada à militãncia cultural/pedagógica e à permanente inventiva...
Rui
Enviar um comentário